Por Adriana Padilha
A inserção feminina no mercado de trabalho, em especial nas profissões ligadas às engenharias e à agronomia, vive uma mudança veloz nos últimos tempos, caminhando para a diminuição da segregação profissional, por área de atuação. Durante muito tempo, a figura da mulher esteve tradicionalmente vinculada às profissões das áreas da educação e saúde, consideradas pelo senso comum mais apropriadas para atender a uma vocação feminina para relações humanas, ideia apoiada nas diferenças biológicas entre gêneros.
No campo da ciência e da tecnologia, enfrentamos por muitos anos, duras disparidades profissionais, como a pouca representatividade das mulheres nas instâncias de decisão dos ambientes corporativos e a falta de credibilidade por parte de clientes. Se recorrermos ao pensamento difundido pela filosofia ocidental, encontraremos explicações para este comportamento social contemporâneo. No campo filosófico, Platão defendia a ideia de que as mulheres eram capazes de governar o Estado com a mesma competência dos homens, pois eram iguais na racionalidade, desde que recebessem a mesma formação e fossem desoneradas do cuidado exclusivo da família e das tarefas domésticas. Por outro lado, Aristóteles desenvolveu e difundiu um pensamento menos diplomático em relação às mulheres. Em sua análise, algo faltava à mulher, conceituando-a como um “homem incompleto”. Infelizmente, a visão aristotélica prevaleceu sobre a ideia de Platão, seu mentor, e foi preponderantemente adotada pelas instituições que formam a sociedade até hoje.
Porém, felizmente, a realidade está mudando. O número de mulheres que ingressam na Agronomia, por exemplo, têm um crescimento proporcional maior que o dos homens, mas os desafios são contínuos e temos de estar sempre vigilantes para que a competência não seja sombreada por questões de discriminação de gênero. No Brasil, as pesquisas indicam que as mulheres apresentam nível educacional médio superior ao dos homens, o que deveria resultar em melhores oportunidades de emprego. Entretanto, sabemos que, na prática, não são apenas estes fatores, como a escolaridade e a experiência, que definem a ocupação de espaços. Na verdade, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para inserção profissional, principalmente em áreas hegemonicamente masculinas, com menos oportunidades de acesso à evolução em suas carreiras.
No Sindicato dos Engenheiros Agrônomos de Santa Catarina, SEAGRO-SC, em contraponto a essa tendência de desigualdade, a porcentagem de mulheres ocupando funções de coordenação (19,3%) é maior que a porcentagem de mulheres na base do sindicato (12,7%). Este avanço se dá, em grande parte, às políticas de incentivo de participação feminina no sindicato. São ações de estímulo e encorajamento, para que esta importante parcela de profissionais se engaje na luta pelos direitos e valorização de sua categoria. A conquista de novas associadas deve caminhar junto com o aumento de mulheres no mercado de trabalho e a transformação profissional das relações de gênero.
Precisamos continuar mostrando que homens e mulheres, com o mesmo nível de capital humano, devem trabalhar lado a lado, com os mesmos salários e as mesmas oportunidades de crescimento profissional. Que o gênero não é uma característica produtiva do indivíduo nem está relacionada a qualquer característica laboral. Que as empresas precisam investir em programas de capacitação e formação de lideranças femininas, criando canais confiáveis para denúncias de práticas discriminatórias, combatendo discriminações ligadas à vida reprodutiva das mulheres e fortalecendo o compromisso de todos em relação ao tema.
Nunca fugiremos à luta, pois temos consciência de que aquilo que não conquistamos, não é nosso.
Adriana Padilha é engenheira agrônoma e diretora do Seagro-SC