A engenharia é uma profissão predominantemente masculina, na qual poucas mulheres conseguem ingressar e permanecer. De acordo com os dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), do total de profissionais registrados, apenas 13,9% são mulheres. Para a engenheira metalúrgica Sarah Hannah Alves, 31 anos, a necessidade de afirmação do conhecimento técnico é muito maior em relação a ela do que com outros homens. “O descrédito é frequente. Além disso, é mais difícil chegar a cargos de chefia e se manter neles, pois, para ocupar uma posição de destaque, a pessoa deve ser reconhecida como autoridade, e é mais difícil para mulheres serem vistas desta forma”, afirmou.
As diferenças de tratamento também se apresentam durante a faculdade, já que as mulheres são minoria nas salas de aula. A estudante de engenharia civil na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Larissa Pereira, conta que teve que enfrentar o machismo no ambiente acadêmico. “Meu professor era misógino e me fez passar por situações bem desconfortáveis. Consegui falar com a direção e ele foi processado administrativamente pela universidade”, contou. E as dificuldades seguem na busca pelo estágio. “Na maioria dos processos seletivos dos quais participei, restavam apenas candidatos homens além de mim. Apenas nas empresas onde os auxílios e as bolsas eram reconhecidamente menores que os de mercado para a mesma posição, é que havia mulheres nas fases finais dos processos seletivos além de mim”, relembra Sarah, que ainda revelou que a maioria dos colegas homens conseguiu estágio com menor esforço. “Eu tive que procurar muito mais que meus colegas e participar de um número expressivamente maior de processos seletivos”, pontuou.
A engenheira conta que, ainda como estudante, escolheu atuar no campo e que nesses ambientes muitas vezes não havia banheiros femininos. “As atividades de campo, em geral, têm ambientes mais hostis e não direcionados as mulheres. Ao passar por uma grave crise financeira, essa empresa começou a admitir mulheres nas atividades de campo, uma vez que, segundo o dono da empresa na época, elas tinham salários mais baixos e executavam um trabalho, em soldas de maior responsabilidade, de melhor qualidade em acabamento”, relatou Sarah.
Entretanto, assim como no resto do mundo, as mulheres engenheiras vêm conquistando cada vez mais seu espaço, como conta a estudante Letícia Partala, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Hoje existem coletivos feministas, como o Enedina Alves da UFRPR, que dão muita voz às mulheres e que servem como porto seguro para compartilhar todos os problemas que sofremos enquanto mulheres e engenheiras. A busca pelos espaços de poder também tem sido bem forte. No nosso setor, dos oito cursos, quatro possuem mulheres como presidentas dos diretórios e centro acadêmicos”, relata. Além dos coletivos, existe também a “comissão anti-opressão”, criada pelo C7 (Conselho dos Estudantes do Setor de Tecnologia da UFPR), que promove debates, divulgações e até festas. A estudante afirma, também, que além das mulheres que participam dos encontros para dialogar, muitos homens estão começando a se interessar. “Eles acabam sendo mais receosos a participar dos debates, mas percebemos que vários têm se interessado e abraçado a nossa causa”.
(Por Leila Ferrell com supervisão de Camila Marins)