Acidentes na CSN deixam grande número de mortos e feridos e empresa se recusa a explicar os motivos
Por Fania Rodrigues, para o Brasil de Fato
Os números de acidentes da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), privatizada em 1993, dispararam e os trabalhadores estão se mobilizando para denunciar o descaso da empresa, localizada em Volta Redonda. O Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho foram acionados e estão investigando quais os motivos da grande quantidade de ocorrências.
Os trabalhadores elaboraram um dossiê com base em documentos e dados da empresa. Ele mostra que em 2014 ocorreram 194 acidentes, em 2015 foram 197 e em 2016, nos primeiros seis meses, já são mais de 100 acidentes. O documento aponta ainda sete acidentes com vítimas fatais, desde 2014. Quatro deles ocorreram esse ano.
O operário Aluênio Francisco Alves Gouveia, de 32 anos, foi uma dessas vítimas. O irmão de Aluênio, Jeferson Antônio Alves Gouveia, acredita que houve negligência da empresa. “Uma tubulação de gás estava com vazamento há mais de um mês e o trabalhadores já tinham pedido para reparar. Quando um dos operários foi ligar o gás houve um princípio de incêndio e logo uma explosão”, conta Jeferson Antônio.
Na hora ninguém morreu, quatro trabalhadores foram levados para o hospital. “Inalaram muito gás, mas estavam bem. E depois foram morrendo. Meu irmão foi o último a morrer. Meu pai e minha mãe ainda não conseguem aceitar a morte. Ele deixou duas filhas pequenas e faz muita falta”, diz o irmão de Aluênio.
A CSN não reconheceu que tinha responsabilidade no acidente. “Eles disseram o que sempre dizem: que foi erro de um dos funcionários, que houve imprudência. Minha família não recebeu nenhuma posição da empresa, nem sequer uma carta de condolências”, lamenta.
Segundo a Pastoral Operária de Volta Redonda, todos os meses acontecem acidentes leves e graves “Na sexta-feira (8) passada dois funcionários perderam parte das mãos em uma máquina, mas podem ter os braços amputados até o cotovelo”, afirma Coutinho Carmo, da Pastoral.
Coutinho, que já trabalhou na siderúrgica, afirma que uma das principais causas de acidente é a falta de manutenção de equipamentos. “As máquinas são antigas, precisam de reparos e manutenção constante. Além disso, os operários reclamam que trabalham sob pressão o tempo todo. A alta rotatividade de funcionários é outro fator que contribui para isso”, afirma.
Os baixos salários e altos riscos fazem com que o quadro de funcionários esteja sempre mudando. “Isso é um problema, porque o setor siderúrgico oferece riscos, por isso é preciso ir treinando o trabalhador. Eles precisam acumular conhecimento para evitar acidentes”, destaca.
O alto número de acidente chamou a atenção do Ministério Público do Trabalho (MPT), que abriu um processo para apurar o caso. “Abrimos uma ação civil pública para verificar os motivos dos acidentes e pedir providência da empresa. No dia 28 de junho fizemos uma audiência, onde exigimos da CSN algumas medidas de segurança. Em outubro haverá outra audiência, quando será verificado se as medidas foram cumpridas”, explica o procurado do MPT, Rafael Salgado.
Procurada, a assessoria de imprensa da CSN informou que a “empresa não vai comentar”. A reportagem tentou, mas sem sucesso, fazer contato com o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, ligado à Força Sindical, que não atendeu nenhuma das ligações.
Fonte: Brasil de Fato