A principal característica de 2015 foi a ofensiva das elites contra os setores populares. Esta ofensiva teve diferentes protagonistas (os setores médios reacionários, o grande capital, os partidos de direita, o oligopólio da mídia, segmentos do aparato de Estado) e teve múltiplos alvos: os direitos trabalhistas, os direitos sociais, as liberdades democráticas, os movimentos sociais e o mandato presidencial.
A ofensiva das elites não teve um único comando, nem adotou uma única tática. Pelo contrário, desde o início do ano as elites estiveram divididas em torno de duas táticas: os que consideravam prioritário o ajuste fiscal recessivo, que teria o efeito colateral de desgastar o governo Dilma e a esquerda, ajudando a criar o ambiente para vitórias das candidaturas da elite em 2016 e 2018; e os que consideravam prioritário criar as condições para interromper imediatamente o mandato da presidenta Dilma, interditar o PT e Lula, com o objetivo de assumir imediatamente o governo federal.
Apesar das divergências táticas, a ofensiva das elites segue impulsionada por objetivos estratégicos comuns: realinhar o Brasil aos EUA, reduzir os direitos sociais e políticos , criminalizar a política, os movimentos sociais e os partidos de esquerda.
Ao longo de 2015, as elites adotaram várias táticas, mas mantiveram sua unidade estratégica. O campo popular, por sua vez, esteve dividido com diferentes leituras da situação política internacional e nacional. Entretanto chegando ao fim do ano, o cenário parece ligeiramente melhor, principalmente porque as elites vivem um momento de divisão e o campo popular conseguiu unificar sua ação.
A divisão das elites ocorreu quando o Eduardo Cunha, para proteger seus interesses pessoais, deflagrou o processo de impeachment, recorrendo às já conhecidas “manobras” regimentais, para compor a comissão especial do impeachment e dificultar o funcionamento do Conselho de Ética da Câmara. Embora parte das elites tenha apoiado a iniciativa, o processo de impeachment nasceu sob o estigma do golpe e da chantagem. Como resultado, as manifestações de 13 de dezembro dos setores favoráveis ao impedimento foram um fracasso de público e de crítica. Por outro lado, diante da ameaça de impeachment, a imensa maioria dos setores progressistas, democráticos e de esquerda iniciou um processo em grande medida espontâneo de unificação, que ficou visível no caráter plural e massivo das manifestações de 16 de dezembro de 2015, em torno dos seguintes eixos: Contra o golpe, em defesa da democracia, Fora Cunha e Por uma nova política econômica.
A luta contra o golpismo continua. Não basta retirar Eduardo Cunha da presidência da Câmara e substituir o ministro da Fazenda. É preciso adotar medidas imediatas e de médio prazo, que interrompam o ajuste fiscal recessivo, que recomponham os direitos sociais e trabalhistas, que estimulem o emprego e o desenvolvimento. É preciso implantar reformas estruturais, pois sem as reformas estruturais, nosso desenvolvimento continuará conservador, dependente e excludente. Por fim não devemos não devemos descartar que no período de festas, a direita promova alguma ação espetacular, no âmbito da chamada operação Lava-Jato. Por isto que cabe aos setores progressistas e democráticos ficarem em estado de prontidão em defesa de democracia e do Brasil.
Engenheiro Civil Ubiratan Félix
Professor do IFBA
Presidente do SENGE-BA
Diretor da APUB