Alice durante III Semana de Engenharia Nuclear da UFRJ, em 2013 (Foto: Arquivo Pessoal)
A brasileira Alice Cunha da Silva é uma das finalistas da Olimpíada Mundial de Engenharia Nuclear, promovida pela World Nuclear University, e embarca na próxima terça-feira (15) para Viena, na Áustria, onde fará sua apresentação final na competição. Ela passou por uma longa triagem, que envolveu a produção de um vídeo com o tema “Técnicas Nucleares para o Desenvolvimento Global”, a seleção do júri internacional, a busca para estar entre os cinco vídeos mais curtidos – que ela liderou, com cerca de 15 mil curtidas no Youtube – e o envio de uma dissertação sobre produção de radioisótopos. Agora ela terá que apresentar o trabalho desenvolvido para a bancada de jurados que se reunirá no dia 17, na sede da Agência Internacional de Energia Atômica.
Aos 25 anos, Alice está concluindo a graduação em engenharia nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde teve uma presença atuante desde o início dos estudos, em 2011. Com apenas dois anos de ingresso na faculdade, em 2013, ela teve um trabalho selecionado para uma conferência de estudantes da área nuclear realizada no Massachusetts Institute of Technology (MIT), promovida pela American Nuclear Society (ANS). Além disso, foi uma das fundadoras da seção estudantil de engenharia nuclear latino-americana da ANS, estudou um ano no Departamento de Engenharia Nuclear da Pennsylvania State University, em 2014, por meio do Ciência sem Fronteiras, e ainda fez um estágio de verão na sede da Westinghouse, em Pittsburgh, nos EUA.
A Olimpíada Mundial de Engenharia Nuclear surgiu mais à frente nesse processo, e ao longo das fases de seleção ela buscou apoio em todas as partes que pôde, incluindo a ABDAN, os professores e os amigos que puderam se envolver na divulgação do vídeo na internet. Quando o prazo foi encerrado, ela tinha cerca de 15 mil curtidas no Youtube, enquanto o segundo lugar tinha pouco mais de 4 mil. O trabalho foi voltado às aplicações médicas da engenharia nuclear, abordando os radioisótopos e ressaltando que a ciência nuclear também salva vidas.
“Foi interessante ver pessoas que não conheciam a área ficarem surpresas com as aplicações, pois não tinham ideia. Tiveram estudantes do ensino médio que me procuraram para saber como estudar essa área na universidade. Então o mais legal é despertar uma certa curiosidade sobre o assunto em pessoas que não tinham conhecimento sobre isso”, afirma Alice.
A estudante atualmente trabalha na unidade brasileira da Westinghouse, onde atua na área de core engineering, também dando apoio às operações da empresa no Brasil. Enquanto isso, acompanha as discussões sobre o futuro do Programa Nuclear Brasileiro, na expectativa de que o País tome as decisões necessárias logo, permitindo a ampliação deste setor e o desenvolvimento da indústria nacional.
“Tenho ficado feliz com a posição do ministro [Eduardo Braga, de Minas e Energia] de apoiar novas usinas, mas uma decisão tem que ser tomada ainda”, diz, contando que hoje as perspectivas para quem está se formando em engenharia nuclear no Brasil não são tão positivas, já que a maior parte das oportunidades está nos concursos públicos – para Eletronuclear, INB e CNEN –, mas não há previsão de abertura por enquanto. A definição final pela construção das novas usinas seria um passo importante para gerar novas vagas e incentivo aos jovens que vêm estudando para atuar no segmento.
Questionada sobre a possibilidade de ir trabalhar fora do país, Alice diz que isso pode ser uma escolha caso não haja alternativas na indústria nacional:
“O que eu quero é um emprego em que eu possa crescer, me desenvolver, que me faça aprender, me desafie, e me permita colocar em prática o conhecimento que adquiri na universidade. Se for no Brasil, ótimo, mas, se vier de fora, estou aberta a essa opção. Atualmente, fica difícil pensar em trabalhar aqui se a única maneira de entrar nas empresas voltadas à produção de energia nuclear é por meio de concurso público, sendo que não abrem novas vagas. Como a minha área tem sido produção energética, vai depender muito da tomada de decisão do governo de seguir ou não com novas usinas. No momento, sem decisão, a perspectiva não é tão agradável”.
A estudante também considera importante a divulgação do conhecimento sobre as atividades nucleares de forma mais abrangente, para que a sociedade compreenda melhor este segmento e possa tirar conclusões mais bem fundamentadas.
“Quando a gente não conhece algo, pode ser contra sem entender bem. Hoje acho que no Brasil há muita gente contra a energia nuclear por falta de conhecimento. Ela não emite gases de efeito estufa e não depende de fatores sazonais, além de ter uma confiabilidade muito grande, então o país não pode ficar para trás nesta área. Se conseguirmos passar as informações corretas para a população, abrindo o debate, isso pode ajudar a mudar esse quadro”, conclui.
Fonte: Jornal do Brasil