50 anos de luta e história. Em cinco décadas, o Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda (Senge-VR) demonstrou força e combatividade em defesa dos profissionais e da sociedade. Nessa entrevista, o presidente do Senge-VR, João Thomaz conta sobre essa trajetória, o período histórico, a luta contra a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e as atuais lutas em defesa dos engenheiros.
O Senge-VR surge um ano após o golpe civil-militar no Brasil. Como foi a organização dos engenheiros de Volta Redonda nessa época?
A CSN, como empresa pioneira não só na área de siderurgia como também em todo o processo de industrialização do Brasil, foi obrigada a manter em seus quadros um forte grupo de engenharia, responsável por processos de nacionalização de equipamentos e componentes, adaptação de projetos e, depois, novos projetos de modernização e expansão da siderurgia, mineração, transporte ferroviário, entre outros, para todo o parque industrial brasileiro. Nesse quadro, Volta Redonda, não só pela CSN, como pela Companhia Brasileira de Projetos Industriais (Cobrapi), a Fábrica de Estruturas Metálicas (FEM) e outras empresas fornecedoras, passaram a ter um grande número de profissionais de engenharia, gerando a necessidade de uma representação trabalhista própria, fora da representação majoritária dos metalúrgicos, que atendesse às demandas específicas de nossa classe de trabalhadores.
Foi, então, criado o Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda, com forte adesão dos profissionais da cidade. Com o recrudescimento do regime militar – notadamente após o AI-5 – e a perseguição aos sindicalistas, diversos dirigentes do Senge foram demitidos, tendo alguns conseguido indenizações posteriores pela perseguição sofrida. Mesmo com todo ambiente adverso com afastamento de diretores, o Senge manteve sua luta pela melhoria das condições de trabalho e dos direitos dos trabalhadores engenheiros, sobrevivendo às duras penas ao regime.
Depois de resistir bravamente à ditadura militar, o Senge-VR logo travou uma batalha contra a privatização da CNS. Como foi esse processo?
A CSN começou a ser preparada para a privatização, em 1991, no início do governo Collor, com uma diretoria especificamente designada para este fim. Com a posse de Itamar Franco e sua disposição afirmada de não privatizar a CSN, houve um relaxamento das atenções quanto a essa possibilidade. Mas, em fevereiro de 1993, foi publicado o edital de privatização, já prevendo o leilão da empresa no mês de abril, quando, enfim, foi realizado. Como o Sindicato dos Metalúrgicos era favorável à privatização, restou ao Senge-VR representar os trabalhadores no questionamento do processo, organizando extensa pauta de questões quanto aos pressupostos do edital, inclusive o preço mínimo estabelecido. Porém, como nossa base se mostrou favorável à privatização, o Senge-VR teve que promover assembleias nas quais, mesmo contra o posicionamento da maioria da Diretoria do Senge, os engenheiros acabaram se colocando a favor do processo. Coube ao Senge-VR, então, trabalhar com afinco na discussão do edital e em aspectos como definição de patrimônio, manutenção de direitos trabalhistas e participação dos trabalhadores no Clube de Investimento, formado por trabalhadores, então alçado à condição de “sócio”do empreendimento.
E como foi a relação e a filiação à Fisenge?
O Senge-VR foi um dos sindicatos fundadores da Fisenge. Decisão que foi tomada, acertadamente, na busca de participação em âmbito nacional nas lutas pela proteção ao trabalho em engenharia, na politicas publicas nacionais e no fortalecimento de suas posições locais com o apoio de uma Entidade Nacional. Durante esses mais de 20 anos de existência da Fisenge, temos tido uma participação em via dupla, trocando experiências e apoio com os sindicatos que fazem parte do corpo da Fisenge.
Nessa trajetória, que destaques traz nas recordações?
Após a privatização, o Senge-VR passou a sofrer ataques tão ou mais fortes, em alguns aspectos, que na época do regime militar. Tivemos diversos diretores afastados de suas funções, associados forçados a se desfiliarem do sindicato e outras formas de pressão. A condição peculiar do Senge, sendo um sindicato independente e voltado para a defesa dos trabalhadores, não raro para isso invadindo a área de representação dos metalúrgicos, e obtendo diversas vitórias contra ações predatórias da administração da CSN, nos transformou em porta-vozes dos trabalhadores e da comunidade nas demandas com a empresa e outras entidades locais. Dentre as vitórias que tivemos nesse período: obrigação da CSN de admitir dívida de 600 milhões de reais com o Fundo de Aposentadoria dos Trabalhadores (CBS); ganho na Justiça de mais de 800 milhões de reais em pagamentos de PLRs para trabalhadores, engenheiros ou não. A negociação de Acordo Coletivo de Trabalho, processos de correção do FGTS e aplicação da lei 4950-A de correções em multas de rescisão de contratos, ganhos na Justiça ou em negociações com empresas; aplicação Salário Mínimo Profissional em empresas, órgãos públicos e prefeitura; readmissão e reversão de demissões por justa causa de trabalhadores; ações no meio ambiente; manutenção de direitos como a assistência médica e outros previstos no edital de privatização da CSN.