Roberto Luiz de Carvalho Freire
“A Chesf é uma empresa que vai cada vez mais longe”, é o que diz a mensagem de final de ano da maior empresa do Nordeste, sediada no Recife, Pernambuco, construída com muito trabalho e dedicação de seus funcionários ao longo de mais de 60 anos. Mas esta empresa, que diz também na mensagem, que é cada vez mais nacional e que valoriza suas raízes, vai longe mesmo, vai acabar. Vai acabar? É o que entendemos das apresentações feitas até agora pelos estrategistas da Eletrobras. Tem data marcada, 30 de junho de 2010, a marca vai ser apagada, e no seu lugar vai surgir uma nova marca, a marca da nova Eletrobras. Tudo por causa de uma frase de Lula, o presidente, dita em 2007, de que a Eletrobras devia ser uma Petrobras do setor elétrico. A partir daí os operadores do plano puseram-se a correr. A correr para transformar a esvaziada Eletrobras, que assumiu as funções de holding federal desde a sua criação em 1962 e não cumpria mais essas funções. A correr para transformar a empresa numa global player, internacionalizando suas ações e operações, segundo dizem as fontes.
A Eletrobras, hoje sem poder de fogo, segundo seus estrategistas, tem sob seu controle algumas das maiores geradoras e transmissoras de energia elétrica do país: Chesf, Furnas, Eletronorte, Eletrosul, CGTEE, parte de Itaipu, Eletronuclear e mais algumas distribuidoras que foram federalizadas porque não foram privatizadas. Vão desaparecer todas, só vai ficar a nova Eletrobras. O que querem os operadores do plano? Seus estrategistas dizem que a marca deve ser reposicionada, que as ações devem ser valorizadas, que a empresa tem que dar lucro para seus acionistas, para garantir a sua sustentabilidade. Nos jornais as fontes dizem que o governo quer que a empresa ganhe musculatura para competir em melhores condições no mercado e baixar as tarifas para o consumidor. Como garantir cada vez mais lucro para os acionistas e baixar tarifas para o consumidor? A Petrobras não conseguiu. Dizem também que querem robustecer a empresa com recursos do BNDES/FAT e depois captar recursos no mercado financeiro. O senador Delcídio Amaral, PT/MS, defendeu a MP 396, que permite as mudanças e usa como argumento a favor dessa operação o sucesso alcançado pela Petrobras, onde teve participação ativa.
O presidente da empresa diz que com o novo Sistema haverá a definição de uma estrutura societária, com a padronização dos estatutos das empresas e a implantação de melhores práticas de governança corporativa. “Teremos um crachá único, com o qual todos os colaboradores terão acesso às nossas empresas. Temos consciência de que é um enorme desafio para as empresas do Sistema, já que as diferenças e as especificidades existem e essa implantação trará profundas alterações na nossa estrutura interna”. O que significa para uma empresa como a Chesf a definição de uma nova estrutura societária e padronização de estatutos das empresas? O que significa implantação de melhores práticas de governança corporativa? E o crachá único? Haverá centralização da tomada de decisão na nova Eletrobras? Significa transformar o que hoje é uma diretoria sediada em Recife em uma superintendência? Significa transpor para o Rio de Janeiro a decisão que hoje é regionalizada, que valoriza suas raízes, sua cultura, sua universidade? O presidente admite que será um enorme desafio essa implantação que trará profundas alterações na estrutura interna do Sistema.
Se as alterações são profundas, para onde vai então a expertise da empresa? Para onde vão a engenharia, a comercialização, o financeiro e a administração? A centralização das decisões já foi feita para as distribuidoras federalizadas e o que se viu foi que mesmo assim os índices pioraram. Essa mesma Eletrobras distribuidora está montando uma central de medição que vai operar em Brasília. Por que não será em Maceió? Por que não será em Porto Velho, ou Rio Branco, ou ainda Manaus e Teresina? A sede da Chesf já foi no Rio de Janeiro e foi trazida para Recife em 1974, depois de muito trabalho e disputa com Salvador. Prevaleceu na ocasião a visão de que o Brasil não é um país unitário, como querem os sudestinos e seus organismos de massificação cultural, desde que a corte portuguesa instalou-se no Rio de Janeiro.
Desequilíbrio, transferência de rendas e reclamações de Norte contra Sul são questões muito antigas nesse país continental. País que utiliza o Estado para fortalecer o capitalismo, mas não consegue utilizar este mesmo Estado para reduzir as desigualdades.
Junto do núcleo de decisão de uma empresa como a Chesf existe toda uma comunidade de prestação de serviços e organizações sociais que são mobilizadas a partir das contratações e investimentos sociais feitos pela empresa. Como vai ser daqui pra frente? Quais serão as raízes da nova Eletrobras? Vai continuar patrocinando o time do Vasco, que é do Rio de Janeiro? O Rio de Janeiro já tem a Eletrobras, o Cepel , a EPE, a Eletronuclear e Furnas, mas parece que é pouco. A comunidade de Furnas, que é no Rio, já se posicionou contrariamente. Quando vai se posicionar a comunidade da Chesf? E o governador, prefeito do Recife, senadores e deputados? Recife e Pernambuco também vão perder receitas de impostos com essas mudanças.
Roberto Luiz de Carvalho Freire é vice-presidente do Senge-PE