O Sindicato dos Engenheiros no Estado de Pernambuco (Senge-PE) completou 80 anos, no dia 14/2. São oito décadas de lutas em defesa do engenheiro, da engenharia e da sociedade. O Senge-PE surgiu em 1935, numa noite de quinta-feira, a partir de várias demandas dos engenheiros, entre as quais se destacava o combate ao emprego dos estrangeiros, que ocupavam as vagas dos brasileiros, a regulamentação da profissão e aos baixos salários pagos pelas empresas, que eram poucas”, contextualizou o vice-presidente da Fisenge e do Senge-PE, Roberto Freire, que esteve na mesa do 1º Congresso Nacional de Sindicatos de Engenheiros (Consenge), em 1991, momento de construção da Federação.
A comemoração festiva será em março, no Recife, e contará com a participação da diretoria da Fisenge e dos presidentes de sindicatos. “Este é um dos mais antigos sindicatos do Brasil e congratulamos seus 80 anos de trajetória. O Senge-PE demonstra sua história de luta em defesa da valorização profissional e da sociedade, além de participação fundamental na construção da Coordenação Nacional de Sindicatos de Engenheiros, que hoje é a nossa Fisenge”, lembrou o presidente da Federação, Clovis Nascimento.
ABAIXO ARTIGO DE ROBERTO FREIRE, publicado originalmente no livro “Fisenge 20 anos: Duas décadas de lutas e esperanças”:
Senge-PE: Memória da Fisenge
O Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco surgiu em 1935, 14 de fevereiro, numa noite de quinta-feira. Surgiu a partir de várias demandas dos engenheiros, entre as quais se destacava o combate ao emprego dos estrangeiros, que ocupavam as vagas dos brasileiros, a regulamentação da profissão e aos baixos salários pagos pelas empresas, que eram poucas. Foi fundado na mesma época que os demais, como os de São Paulo e Rio de Janeiro. O Estado brasileiro vinha, desde a fundação da república, passando por turbulências políticas, e a década de 1930 não foi diferente, com os movimentos sociais e operários e as elites que dominavam o país disputando as alternativas políticas e ideológicas que estavam em disputa no mundo e no Brasil.
A república brasileira não gozava de grande estabilidade e havia saído de um governo provisório, fruto de um golpe de estado, que levou ao poder o ideário fascista e corporativista importado por Getúlio Vargas. Neste governo provisório foi criado o Ministério do Trabalho, que é a base de todo o arcabouço estrutural do sindicalismo controlado pelo estado, implantado e em vigor até hoje no Brasil. O golpe fora apoiado em Pernambuco por Carlos de Lima Cavalcanti, que recebeu como “prêmio” a interventoria do Estado das mãos de Getúlio Vargas. O interventor, nos primeiros anos de governo, marcou sua atuação política pela defesa da sindicalização da classe operária, pelo incentivo às manifestações das forças populares e pelo combate às propostas de reconstitucionalização do País.
Desde então, o sindicato seguiu – como orientava o manual corporativista, que conquistou seus fundadores – uma trajetória de alternância entre a obediência ao estatuto de fundação, que prescrevia a colaboração com o Estado no estudo e solução dos problemas que direta e indiretamente se relacionasse com a profissão, e a resistência, na defesa do estado democrático de direito, mesmo tendo nascido no breve governo constitucionalista de Getúlio Vargas, que administrava o país entre duas grandes forças políticas de então. Os integralistas desejosos de um governo centralizado e sem liberdades constitucionais e a Aliança Libertadora Nacional, clamando por reforma agrária, revolução por meio da luta de classes e combate ao imperialismo. As lutas e o oportunismo golpista levaram Getúlio Vargas à criação do Estado Novo.
Atravessamos, nesses quase 80 anos, muitos períodos de agitação e truculência, tanto políticos quanto econômicos. Quando chegamos aos 200 sócios o Brasil vivia mais um estado de exceção, o longo período do Estado Novo, quando as bases da economia industrial foram implantadas, e em Pernambuco o interventor federal de plantão era um dos mais influentes conselheiros do presidente, o professor Agamenon Magalhães. Somente em 1950, quando o país ainda andava de trem e a indústria automobilística iniciava sua instalação, com o número de registro 209, é que conseguimos a primeira sócia do sindicato. Foi a engenheira Maria Eugênia de Moraes, com graduação em engenharia civil, e que trabalhava no Departamento de Estradas e Rodagem do governo do Estado. A ocupação da nossa Maria Eugênia sinalizava a opção pelo setor rodoviário que seria adotada no Brasil.
Tivemos a seguir o suicídio do presidente Vargas, a renúncia de Jânio Quadros com sua vassoura, um breve período de parlamentarismo, mais um golpe, que tirou João Goulart e seu governo reformista da presidência da República e Miguel Arraes do governo de Pernambuco. Tivemos ainda um golpe dentro de outro, em 1969, que instalou uma ditadura sangrenta, com desaparecimentos e mortes de perseguidos políticos e cassou até um ministro do Supremo Tribunal Federal. Neste período sombrio, conseguimos uma vitória simbólica e histórica, quando o Congresso Nacional aprovou e derrubou o veto presidencial à Lei nº 4.950-A, de 1966, que criou o Salário Mínimo Profissional para nossa categoria. O Senge-PE, nesse longo período entre o Estado Novo e meados da Ditadura Militar, esteve, junto com outros sindicatos, trabalhando pela formação da federação, que concretizou-se no início dos anos 1960 e deixou como triunfo ideológico para a posteridade a eleição de um sócio e ex-diretor, Pelópidas Silveira, como primeiro prefeito de esquerda da Cidade do Recife. Foi o primeiro prefeito a implantar um processo de consulta aos munícipes, para decidir onde, quando e como seria implantado o orçamento.
Conseguimos ainda com um grande valor simbólico, uma vitória histórica em plena ditadura militar, a aprovação e a derrubada do veto à nossa lei do Salário Mínimo Profissional, em 1966, e ainda, recentemente, a criação das centrais sindicais, tão almejadas desde a década de 1920.
No final da década de 1970, quando os sinais da crise econômica, o descontentamento social e as greves do ABC paulista, empurraram a ditadura para a abertura, o retrato da engenharia em Pernambuco havia se transformado. Com a chegada da Chesf, da Sudene e de outros órgãos e ainda de grandes empresas de engenharia consultiva, o número de sócios ultrapassou a barreira dos 2.000. Em 1983, depois de um longo período de apatia e duas eleições, o sindicato renovou a direção e persiste com o mesmo grupo até os dias atuais. Nesse último período fomos base de criação de várias entidades, demos apoio e ajudamos a construir muitas oposições democráticas de outros sindicatos e reconstruímos a trajetória de luta em defesa dos direitos dos engenheiros e engenheiras e da engenharia pernambucana. Estivemos presentes em todas as grandes lutas democráticas da nação, como as diretas já e o impeachment de Color. Ajudamos a fundar a Fisenge, lutamos contra a Alca, contra o pagamento da dívida externa e a favor da reforma agrária.
Hoje, depois da consolidação do processo democrático e da eleição do operário Lula e de uma mulher, Dilma, para presidir o país, o sindicato vive uma nova fase, com a criação, mesmo que tardia, da diretoria da Mulher, que segundo os filósofos vão dominar o mundo no século 21, e a implantação do Senge Jovem, que certamente darão uma nova dinâmica ao nosso bravo Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco.
Roberto Freire, vice-presidente do Senge-PE e da Fisenge