Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, reproduzimos abaixo algumas matérias publicadas no jornal do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro (www.bancariosrio.com.br).
A LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO
Mulheres ocupam mercado de trabalho, mas têm renda inferior
É cada vez maior o número de mulheres no mercado de trabalho, mas elas ainda sofrem discriminação de uma sociedade machista e desigual e recebem salários inferiores aos dos homens. Os dados são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo pesquisa realizada no ano passado em cinco regiões metropolitanas (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) e no Distrito Federal, as mulheres representam, em média, cerca de 43,4% do total de assalariados do setor privado. Os números mostram um crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho na última década, embora estes percentuais tenham se estabilizado nos últimos cinco anos.
Homens ganham mais – Apesar da presença feminina ser cada vez mais comum em empresas dos mais diversos setores, as mulheres ainda sofrem com a dupla jornada e a discriminação. Elas ainda recebem salários inferiores em relação a homens que ocupam funções similares e tenham o mesmo nível de escolaridade. O rendimento mensal médio dos homens assalariados nas regiões pesquisadas é de R$ 1.251, enquanto o das mulheres é de R$ 1.037. Isto significa que elas têm uma renda mensal que é 17,1% inferior à dos homens. Se forem levados em conta todos os trabalhadores ocupados (com carteira assinada ou não), a situação tornar-se ainda mais grave. Neste caso, a renda média dos homens chega a R$ 1.291 contra R$ 869 das mulheres, ou seja, uma diferença de 32,7%. Esta diferença já foi maior: em 2003 chegava a 34,9%, mas a disparidade ainda é escandalosa e a discriminação por sexo é evidente.
Vítimas do desemprego – Embora o desemprego tenha diminuído no governo Lula, as mulheres continuam sendo as maiores vítimas das demissões. Em 2006, a taxa de desemprego das mulheres chegava a 18,6%, enquanto a dos homens era de 13,4% (diferença de 5,2%). Houve avanços em relação a 2003: a diferença na época era de 5,9% (homens 17,2% e mulheres 23,1%).
Valorização machista – Apesar de ter havido uma expansão em seu nível de escolaridade, as mulheres não são valorizadas. Elas ainda estão presentes em atividades econômicas menos organizadas, geralmente no setor terciário e muitas na informalidade.
Estão, em sua maioria, em atividades do setor de serviços, nas ocupações consideradas “femininas”, que, muitas vezes, exigem pouca qualificação profissional. Elas ocupam postos de trabalho, principalmente no serviço doméstico remunerado, primeira ocupação das mulheres brasileiras. Entre elas, as mulheres negras são cerca de 56% das domésticas e recebem rendimentos mais baixos.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), dentre as mulheres pesquisadas no mundo, de 15 a 30% já foram assediadas sexualmente e uma a cada doze teve que abandonar o trabalho.
É cada vez maior o número de famílias chefiadas por mulheres, mas a maioria ainda está em atividades precarizadas.
Apesar das históricas e recentes conquistas sociais e trabalhistas e da mobilização e organização das mulheres, ainda persistem as discriminações e a violência no trabalho, além das discriminações vivenciadas pelas mulheres no próprio cotidiano de suas vidas e, em muitos casos, até em seus lares.
HOMENAGEM
Olga: símbolo de coragem e convicção política
No dia 12 de fevereiro deste ano, uma mulher, símbolo de coragem, firmeza e convicção política, estaria completando 100 anos. De família judia, Olga Benário Prestes, cujo nome verdadeiro era Maria Bergner, nasceu em 1908, em Munique, na Alemanha.
Apesar de seu papel importante na história política do Brasil, Olga foi ignorada durante muito tempo no país, ao contrário do que acontecia na Alemanha, onde é até nome de rua.
Revolucionária – Olga era uma revolucionária. Acreditava na luta por um mundo sem desigualdades, onde não houvesse explorados nem exploradores, onde mulheres e homens tivessem os mesmos direitos. Aos 15 anos, já fazia parte da Juventude Comunista Alemã.
Olga seguia os passos de outras revolucionárias judiais, como Rosa Luxemburgo e Ema Goldman. Sua grande paixão foi o brasileiro Luiz Carlos Prestes. O líder comunista brasileiro foi escoltado por ela, em 1935, de Moscou ao Brasil, e, por motivos de segurança, se passou por seu marido.
Morte na Alemanha – O teatro acabou virando realidade e os dois viveram uma grande paixão. Frustrado o levante, foram presos. Olga, que se encontrava grávida, foi extraditada em 1936 durante o governo Getúlio Vargas para a Alemanha nazista. Em 27 de novembro do mesmo ano nasce sua filha e de Prestes, Anita Leocádia. Na Alemanha, Olga foi levada para a prisão de mulheres da Gestapo e, em 1938, para campos de concentração. Em 1942, ela e outras 200 prisioneiras foram mortas na câmara de gás.
HELONEIDA STUDART
Uma vida em defesa dos direitos da mulher
Heloneida Studart, indicada no livro Mulheres brasileiras entre as 100 mais importantes do século XX, foi uma das primeiras a defender os direitos da mulher no país. Faleceu em dezembro do ano passado.
Jornalista, ela deixou como legado livros e textos sobre a condição feminina. Uma de suas obras mais destacadas sobre o assunto, Mulher objeto de cama e mesa, editada pela Vozes, vendeu 280 mil exemplares e está na 27ª edição. O livro é considerado uma bíblia do feminismo brasileiro. Outro livro, “Mulher, a quem pertence seu corpo?”, está na 6ª edição.
Eleita deputada estadual por várias legislaturas, a partir de 1978, Heloneida integrou as comissões especiais relativas aos direitos da mulher (direitos reprodutivos) e defendeu melhores condições de atendimento à população nessa área. Fundou, com outras companheiras, o Centro da Mulher Brasileira, primeira entidade feminista do país, e o Centro Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), ambos no Rio.
“Heloneida Studart foi uma combativa e constante companheira na luta em defesa das bancárias e bancários, tendo apoiado todas as lutas da categoria, ao lado do Sindicato”, afirma emocionada a diretora do Sindicato Vera Luiza.
DELEGACIA DE MULHERES
Lei Maria da Penha reduz registros na Delegacia de Mulheres
Titular da Delegacia de Mulheres explica que mudança não significa diminuição da violência doméstica
A delegada Adriana Pereira Mendes Sálvio, titular da Delegacia de Atenção à Mulher (DEAM) do Centro da Cidade, concedeu entrevista ao Jornal Bancário. Nela, fala sobre o impacto da Lei Maria da Penha sobre a violência doméstica. A lei, mais severa que a anterior, possibilita a prisão do agressor.
Jornal Bancário – Qual o impacto da Lei Maria da Penha nos registros de casos de violência?
Adriana – Com a Lei Maria da Penha, notamos uma pequena redução do número de registros. Mas ainda não é possível afirmar que diminuiu a violência doméstica contra a mulher. Apesar de haver mais de um ano da lei, ainda é cedo para tirarmos uma conclusão definitiva. Podemos apontar algumas possibilidades. Uma delas é que, como a lei possibilita a prisão do agressor, e considerando que ele é, muitas vezes, o próprio marido, a pessoa com quem ela tem uma relação afetiva, filhos, isto pode inibir a mulher de fazer o registro, porque, apesar dela não querer que aquela situação continue, ao mesmo tempo pode não querer que o sujeito vá preso. Outra possibilidade é que, por ser uma lei mais dura, está inibindo o homem de cometer violência, sendo uma forma de prevenção.
Bancário – Qual a orientação dada a mulheres vítimas de violência que chegam à DEAM?
Adriana – Nós sempre encorajamos a mulher a fazer o registro, porque é uma forma de inibir o agressor. O que a gente observa é que, se ela não fizer nada, a situação sempre tende a piorar. É um equívoco acreditar no contrário. Hoje são cenas de ciúme, um pequeno insulto, e se nada é feito, passa a um empurrão, amanhã, um tapa no rosto, um soco, depois lesões mais graves. Por isso, encorajamos todas a fazer o registro.
Bancário – A mulher sofre outros tipos de violência, como a discriminação no trabalho, por exemplo. Você já sofreu algum tipo de discriminação?
Adriana – Se houve foi tão velada, que eu não percebi. Sou delegada há 10 anos, se os agentes têm algum tipo de resistência, acabam não demonstrando, até porque há uma autoridade sobre eles. E entre outros delegados nunca tive uma situação onde verificasse qualquer tipo de discriminação.
Bancário – O que você aconselha à mulher que sofre violência doméstica?
Adriana – Aconselho que venha nos procurar, porque verificamos que a violência sempre aumenta. Há também núcleos de assistência contra a violência doméstica. Muitas vezes a mulher quer que aquela violência cesse, mas não que o sujeito seja preso. Neste caso, há instituições que dão assistência psicológica a ela, ou aconselhamento a ele; assistência jurídica, em caso de separação, ou para obrigá-lo a sair de casa. Mas, para nós, o importante é denunciar. Esperar, por si só, que aquilo cesse, não vai acontecer. A tendência é aumentar.
Este artigo foi publicado em 10/03/2008 às 18:21 na seção Notícias.