O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho defendeu nesta segunda-feira que a Unasul e o Mercosul façam uma “ação forte de não aceitar” o processo que resultou no impeachment de Fernando Lugo no Paraguai. O Brasil e as demais nações da América do Sul decidiram suspender o Paraguai do Mercosul e da Unasul até as eleições presidenciais previstas para abril do ano que vem. Em comunicado ontem à noite, a Chancelaria da Argentina confirmou a suspensão.
“O que se esperava era um caminho de aprofundamento da democracia, não de restrição ao direito democrático de defesa, como foi o caso que se praticou no Paraguai. Por isso a nossa estranheza e perplexidade. Eu acho correto que a Unasul e o Mercosul, que têm nas suas cartas de princípio a defesa da democracia, façam uma ação forte de não aceitar essa [situação]”, disse Gilberto Carvalho.
A despeito da desaprovação do processo “relâmpago” de impeachment, o ministro Gilberto Carvalho evitou classificar o movimento como um “golpe”. “Eu não quero adjetivar. O governo brasileiro manifestou protesto contra o processo. A história do adjetivo, a gente tem que tomar muito cuidado nessa hora. Até por respeito também ao governo e ao povo paraguaio”, afirmou o ministro.
Para o ministro, a discordância do Brasil em relação ao impeachment se deve ao fato de o processo não ter respeitado o princípio fundamental de “amplo direito à defesa”. “De fato, você mudar o presidente de um país, num período de 24, 30 horas é de todo inusitado. Então há uma insurgência de todos os países contra essa questão. Mas acho que agora a presidente, os outros países em conjunto, vamos com maturidade tomar uma posição”, afirmou.
O ministro também defendeu a unidade entre os países que formam a Unasul e o Mercosul e disse que é importante que as nações tomem decisões conjuntas em relação ao episódio. “Pra nós é muito importante valorizar o Mercosul e a Unasul e trabalharmos em conjunto com os países. Nós estamos evitando tomar qualquer medida que não seja construída num consenso com os outros países”, explicou.
O ministro Gilberto Carvalho afirmou também que a decisão definitiva dos países sobre o Paraguai será tomada na sexta-feira — quando será realizada reunião da Cúpula do Mercosul — mas lembrou que a suspensão do país já está anunciada: “A suspensão já está anunciada. Eu acho que só a reunião agora de sexta-feira lá em Mendoza, na Argentina, é que poderá determinar, digamos, uma medida mais definitiva a esse respeito”.
Para o ministro, o episódio vai contra o histórico recente de fortalecimento da democracia em países da América Latina. “A nossa grande alegria dos últimos tempos é exatamente o fato de termos superado, na América Latina, aquela tragédia dos regimes totalitários, a implantação da plena democracia. Vários países caminhando pra democracias populares, com governantes populares. Portanto, o que se esperava era um caminho na outra perspectiva”.
Fonte: Folha de S. Paulo