A assinatura da abolição, no dia 13 de maio de 1888, foi fruto de revoltas de quilombos e movimentos negros, que pressionavam a coroa por libertação. E, até hoje, vemos os resquícios da escravização surgirem em nossa realidade e atual conjuntura, com a falta de políticas públicas para os negros e as negras, uma vez que, à época, foram jogados à margem da sociedade, sem acesso a trabalho, à educação, à saúde, etc.
Hoje, no Brasil, 51% da população é formada por negros. No entanto, ainda encontramos um quadro de profunda desigualdade no país. Exemplo disso é que os negros representam apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos. Estes são dados fornecidos pelo Observatório da População Negra. Segundo o Mapa da Violência 2012, entre 2001 e 2010, o número de vítimas brancas, de 15 a 24 anos, caiu 27,5% (de 18.852 para 13.668), enquanto que de vítimas negras aumentou 23,4% (de 26.952 para 33.264). Percebemos que as mulheres negras ainda são as maiores vítimas de agressão e assassinato, e são maioria no subemprego.
A luta não se estagna e precisamos seguir avançando pela igualdade de direitos. É nosso compromisso ampliar o debate, descortinar o processo histórico, que ainda mantém as mulheres negras num quadro de forte opressão e pressionar por políticas públicas, que atendam às especificidades da população negra.
De lá para cá, são mais de cem anos de denúncia e luta por espaços na sociedade e no mercado de trabalho formal para o negro, além do combate ao preconceito racial. Diante deste cenário, conversamos com a engenheira eletricista e diretora do Senge-RJ, Lusia Maria de Oliveira, que contou sobre sua experiência de ser uma mulher negra e engenheira, numa carreira, predominantemente, marcada pela presença de homens.
Você como engenheira, mulher e negra já enfrentou algum preconceito no local de trabalho? Se sim, como foi?
Eu tenho cerca de quatro décadas de trabalho e, certamente, já experimentei várias situações, inclusive, com certo constrangimento. Trabalhei com a maioria de homens e, esta foi minha opção dentre tantas carreiras disponíveis à época. No começo, me olhavam com certa desconfiança, depois com curiosidade, até que não tendo saída, recebi o acolhimento e a cooperação.
Como você vê o atual mercado de trabalho para a mulher engenheira? Os espaços estão se ampliando?
Vejo com esperança e confiança da maior participação de mulheres em todos os segmentos da engenharia. O mercado já provou que as mulheres podem e devem ocupar qualquer posto de trabalho gerado pela engenharia. Basta observar que a cada oportunidade apresentada, é ocupada com muita tranquilidade por elas, cada vez mais capacitadas, qualificadas, especializadas e com muita competência.
Por que decidiu entrar no movimento sindical?
Porque percebi a grande necessidade de encontrar mulheres neste segmento político. O olhar de negociação coletiva alcançava pouco a mulher, mesmo com todo o esforço de algumas lideranças masculinas, não nos atendia plenamente. A voz feminina era pouco ouvida. Falta ainda uma formação política sindical mais aprofundada, mas, mesmo assim, e aos poucos estou conseguindo ocupar também este espaço e, em breve, (este é o meu desejo) estarei compartilhando com outras tantas mulheres. A história e os números já comprovam este movimento embora lento, responsável, comprometido e com muita firmeza.
Qual a importância da mulher no movimento sindical?
A defesa da profissional da engenharia precisa estar bem explícita. Nesse sentido, a participação da mulher no movimento sindical precisa ser reforçada para, juntas, sermos ouvidas e nossas reivindicações atendidas com respeito e igualdade de direitos, que precisamos e merecemos.