O evento foi marcado por diversas apresentações artísticas, manifestações, debates e conferências
Creuza Gravina, Ciranda da Informação Independente
As atividades do Dia de Mobilização e Ação Global no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, começaram cedo, desde às 10h da manhã. Ao longo do dia foram realizadas apresentações musicais e teatrais, performances, feira de trocas, debates, exibição de filmes, programação infantil e outros, em oito tendas e quatro palcos distribuidos entre o Museu da República e o Hotel Glória, área com cerca de um quilômetro de extensão.
Na Tenda das Conexões foram realizadas conferências transmitidas ao vivo para diferentes partes do mundo, possibilitando a participação do público através de perguntas enviadas por Chat. Várias personalidades ligadas à luta por um mundo melhor estiveram presentes, como o dramaturgo Augusto Boal, o teólogo Leonardo Boff, o músico Tico Santa Cruz, o ator Milton Gonçalves e o ministro Paulo Vannuchi – Secretário Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República.
O Teólogo Leonardo Boff, da Comissão Internacional da Carta da Terra, falou da importância do Fórum Social Mundial, realizado no mesmo período em que se realiza o Fórum Econômico de Davos, na Suiça, ressaltando que enquanto na Suiça “eles discutem o vil metal” aqui está sendo discutido o que realmente é importante para uma qualidade de vida mínima, uma vida decente não só para os seres humanos, mas também para os animais, as plantas. Boff ressaltou que o fórum visa “mostrar que há gente no mundo inteiro, em todos os países, que resiste a esse sistema de ocupação do nosso planeta” e que temos condições, tecnologia e vontade, possibilitando que um novo mundo não seja apenas um sonho, mas se torne real através da mobilização e de nossas práticas. O teólogo falou que o desafio atual é identificar “como podemos ser humanos de forma diferente, contra essa hamburguerização que está ocorrendo no mundo”.
Tico Santa Cruz, músico e ativista do grupo Voluntários da Pátria, falou que nosso objetivo dentro do fórum é divulgar através da música, da poesia, uma nova consciência política, levantando a bandeira da educação, para que as pessoas desenvolvam consciência crítica. Tico disse que o grupo do qual faz parte realiza protestos lúdicos, apresentando temas que abordam de forma lúdica assuntos sérios. O músico finalizou dizendo que “a revolução começa dentro de cada um de nós, que a gente consiga começar essa revolução interna”.
O ministro Paulo Vannuchi ressaltou que a importância do Fórum Social Mundial ainda é maior em 2008 pois este ano é o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual prega entre outros o direito à liberdade, saúde, alimentação e diversidade sexual. Paulo disse que o governo tem planos de realizar ao longo do ano debates em escolas e comunidades. O ministro afirmou que “o Fórum Social Mundial é um importantíssimo movimento para a articulação da paz, sem violência, sem derramamanento de sangue, sem segregação” e que a edição de 2008 serve de preparação para a próxima Conferência dos Direitos Humanos, que acontecerá no fim do ano.
Na Tenda de Idéias foram realizados debates sobre diferentes temas, como saúde, direitos humanos, meio ambiente, movimentos sociais e outros. Dr. Paulo Amarante falou sobre o movimento de luta antimanicomial, pela reforma psiquiátrica no Brasil. Paulo disse que muita gente acha que o fechamento de um hospício é um ato de descaso com os pacientes, mas a questão é como conseguir fechar os hospícios e iniciar novas formas de tratamento, como oficinas e outras formas de inclusão social. O público também participou realizando perguntas e apresentando idéias. Assuntos como Mal de Alzheimer, Febre Amarela e outros foram debatidos.
O teólogo Leonardo Boff, assim como os demais que estiveram nas conferências da Tenda das Conexões, foi convidado a participar da Tenda de Idéias. Boff discutiu a situação atual da Bolívia e do Brasil e disse que “não queremos mais essa política que usa guerra para defender seus direitos, nós queremos o diálogo, a negociação”.
O encerramento do evento contou com show de Martinho da Vila no palco principal, atraindo grande número de pessoas apesar da chuva. Antes do show, mais uma vez Leonardo Boff falou ao público, seguido de Cândido Grzybowski, diretor geral do Ibase. Boff reforçou a questão central do novo mundo possível: “nós temos esse sonho e não queremos que ele continue sonho e sim se torne realidade” e disse que “se nós nascemos das estrelas, nascemos para brilhar, que brilhe o ser humano, que brilhe um novo modo de vida”. O teólogo deixou a mensagem final que “unidos podemos projetar, sonhar, por em ação um novo mundo possível… porque a união faz a força”.