O Ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, fechou o ciclo de debates da manhã de hoje, do Encontro de Lideranças 2011, com sua participação no Painel “Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e Política de Desenvolvimento Produtivo”, debate coordenado pelo presidente da Fisenge, Carlos Roberto Bittencourt. Para o ministro, a estabilidade econômica conquistada nos últimos anos, aliada à criação de um mercado consumidor interno levou o Brasil ao cenário atual, de retorno do crescimento. A inserção internacional do Brasil; a atuação do Estado como indutor do desenvolvimento e a consolidação da democracia são fatores que, segundo Mercadante, configuram o novo padrão econômico do país, com um cenário macroeconômico que atrai investimento internacional. “Estamos retomando o planejamento estratégico do país, que tínhamos perdido desde o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), na década de 1970”, afirmou o ministro.
Contudo, para que o crescimento econômico permaneça, de forma sustentada, há ainda muitos desafios a enfrentar. O atual déficit de infraestrutura e logística, segundo Mercadante, reflexo dos vários anos em que não houve crescimento econômico no Brasil, é um deles. “No setor aeroportuário, por exemplo, houve um crescimento de 20 milhões de usuários, nos últimos dois anos, sendo que 7 milhões nunca haviam viajado de avião. Falta investimento em logística para que o setor aeroportuário possa atender a essa nova demanda”, exemplificou.
Outro problema crucial a ser enfrentado, para que a situação atual configure-se como um “novo desenvolvimentismo”, é o perfil do Balanço de Pagamentos do país, hoje baseado na exportação de commodities. “A demanda por commodities cresceu muito. Nos últimos 12 meses, o preço dos alimentos aumentou 45% no mercado mundial. Essa é uma grande janela de oportunidade para o Brasil, segundo exportador desses produtos hoje. Entretanto, não podemos nos acomodar nessa situação”, pontuou Mercadante. “Temos de usar essa janela de oportunidade a nosso favor, sem perder o foco: nosso desafio é fazer avançar a indústria”, ressaltou.
Outro grande desafio, segundo o ministro, é o desenvolvimento, no Brasil, da Sociedade do Conhecimento. “ciência, tecnologia e educação são as bases da sociedade do futuro”, ressaltou Mercadante. Segundo ele, políticas governamentais como a do Prouni fizeram o Brasil avançar no que se refere à formação de mestres e doutores. A ampliação do sistema de pós-graduação permitiu a formação de 50 novos mestres ou doutores no ano passado. Em 1987 esse número não passava dos 5 mil. Contudo, os índices atuais estão muito aquém do que seria necessário para fazê-lo competir em pé de igualdade com outros países em desenvolvimento, principalmente no que se refere à formação de engenheiros.
“No Brasil, formamos um engenheiro para cada 50 graduados em outros cursos de nível superior. Na china, forma-se um engenheiro para cada 4 graduado e, no México – país com indicadores econômicos semelhantes aos do Brasil – , a relação é de um para vinte”, exemplificou Mercadante. O número total de engenheiros também deixa a desejar. São, segundo ele, 30 mil por ano. 40 mil se se considerar os tecnólogos. A Rússia forma 190 mil engenheiros por ano; a Índia, 220 mil e a China, 560 mil.
Quando se trata de investimento em pesquisa, percebe-se que a produção na área de engenharia está caindo. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) oferece 77 mil bolsas de estudo, sendo que apenas 12 mil são para engenheiros. “A produção de conhecimento no país vem aumentando, mas a produção de conhecimento em engenharia vem decrescendo”, destaca o Ministro, pontuando que isso se deve ao déficit de profissionais. “Para avançarmos, precisamos de um Programa Nacional de Estímulo à formação de engenheiros”, ressaltou. “Há houve um déficit no preenchimento de vagas na área de engenharia, reflexo de uma cultura de baixo crescimento que se consolidou ao longo de anos”.
Mercadante pontuou várias formas de se superar o cenário atual. Primeiramente, segundo ele, é preciso repensar o significado da carreira acadêmica, no Brasil. É preciso também investir em pesquisa e desenvolvimento e alavancar fundos setoriais, como, por exemplo, o Fundo da Construção Civil. Muito disso vem sendo feito, como, por exemplo, fundos específicos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para empresas inovadoras; a criação da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que se especializou em inovação; O aprimoramento da Lei de Informática, que ficou conhecida como “Lei do Bem”; a criação de Parques tecnológicos e incubadoras de empresas.
Mercadante concluiu sua palestra dizendo que o país está num momento em que não é possível pensar pequeno. “Temos de investir em inteligência aplicada. O Brasil não pode se acomodar nessa tendência de ser exportador de commodities e isso só será possível com um foco muito grande em engenharia”.
Mariana Silva
Assessoria de Comunicação do Confea
Foto: Confea