20 de novembro é dia nacional da consciência negra. Momento que lembramos a luta de Zumbi, liderança do Quilombo de Palmares, símbolo da luta contra a escravização. Não somente a luta de Zumbi, como também a luta cotidiana de negras e negros por direitos. A luta não parou com a abolição. Não parou com a falaciosa assinatura da princesa Isabel. A luta é permanente no processo histórico. Um símbolo abolicionista era a camélia, que a própria Princesa Isabel cultivava. Mas um erro histórico é atribuir a abolição à monarquia da época e suas elites, que, na realidade, por temerem uma revolução em proporção maior, assinaram a abolição.
A assinatura da abolição foi fruto de revoltas de quilombos e movimentos negros. E, até hoje, por falta de políticas públicas e pelo abandono da população negra após a abolição, vemos os resquícios da escravidão surgirem em nossa realidade e atual conjuntura. Se, hoje, fôssemos ressignificar as camélias poderíamos dizer, que são símbolos da falta de políticas públicas para os negros e as negras, uma vez que, à época, foram jogados à margem da sociedade, sem acesso a trabalho, à educação, à saúde, etc.
Hoje, no Brasil, 51% da população é formada por negros. No entanto, ainda encontramos um quadro de profunda desigualdade no país. Exemplo disso é que os negros representam apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos. Estes são dados fornecidos pelo Observatório da População Negra.
Segundo o Mapa da Violência 2012, entre 2001 e 2010, o número de vítimas brancas, de 15 a 24 anos, caiu 27,5% (de 18.852 para 13.668), enquanto que de vítimas negras aumentou 23,4% (de 26.952 para 33.264). Percebemos que as mulheres negras ainda são as maiores vítimas de agressão e assassinato, e são maioria no subemprego.
A luta não se estagna e precisamos seguir avançando pela igualdade de direitos. É nosso compromisso ampliar o debate, descortinar o processo histórico, que ainda mantém as mulheres negras num quadro de forte opressão e propor políticas públicas, que atendam às especificidades da população negra.
Avançamos, mas a escravidão ainda não acabou. A opressão continua e somos todos e todas escravos dos modos de produção e sua relação com o capital. Que o 20 de novembro seja permanente e cotidiano em nossas lutas.
Coletivo de Mulheres da Fisenge