A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) poderia fazer pesquisas para criação de insumos que substituíssem o uso de agrotóxicos e, assim, geraria mais empregos, tanto no campo, quanto no desenvolvimento dos estudos, além de produzir alimentos mais saudáveis.
Esse foi apenas um exemplo de como o crescimento com respeito ao meio ambiente é possível, citado nesta sexta-feira (29) durante o encerramento do seminário internacional sobre política industrial sustentável. A atividade ocorreu no Sindicato dos Químicos de São Paulo.
A medida, porém, como muitas outras esbarra
na falta de uma ação política mais firme dos governos – além do lobby poderoso do agronegócio -, que acaba por abrir espaço à iniciativa privada interessada exclusivamente no lucro, conforme explicou o secretário de Meio Ambiente da CUT, Jasseir Fernandes.
“Com nossa biodiversidade, sabemos que poderia haver pesquisas para o desenvolvimento de insumos que substituissem os agrotóxicos, mas isso não interessa, porque viria das nossas matrizes e não seriam patenteadas por multinacionais estrangeiras. Muitas empresas públicas, como a Embrapa, são contratadas para fazer estudos sobre transgênicos para a Monsanto e, claro, darão parecer favorável aos interesses dela. Quando deveriam pensar na lógica da sustentabilidade para desenvolver produtos que não precisassem usar técnicas agressivas ao meio ambiente”, pontou o dirigente.
Para ele, pensar em manter a produção industrial como está para manter empregos é um equívoco que pode trazer prejuízos ao país, inclusive, em relação aos custos com saúde.
“Empresas como a Monsanto trabalham apenas na lógica do lucro, mas nós temos que pensar em geração de emprego e renda, buscando a inclusão por meio de alternativas sustentáveis. Não vamos eliminar emprego ao melhorar a indústria poluidora, mas criaremos mecanismos para que as pessoas tenham melhor condição de vida e saúde. Na maior parte das vezes, pensamos no imediatismo, de ter um alimento supostamente mais barato produzido com agrotóxicos. Mas esquecemos o custo que gerará ao Sistema Única de Saúde por conta dos prejuízos caudados pelo consumo de venenos. E as empresas que produzem ainda ganham produzindo com o antídoto, porque também atuam na área farmacêutica”, lembrou.
Encontro nacional – Iniciativa do macrossetor indústria da CUT, fórum que tem por finalidade construir ações comuns entre as diversas entidades do segmento dentro da Central, o encontro precedeu outros que ocorreram na Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco. O próximo passo, explica o Secretário Geral da CUT, Sérgio Nobre, é promover uma atividade nacional, em março de 2014.
“Nenhum país do mundo conseguiu avançar no social sem ter indústria forte e inovadora. O Brasil vive esse drama, a indústria brasileira está perdendo conteúdo e se isso acontece, a nossa possibilidade de avanço na agenda social diminui junto. A atividade aqui definiu um encontro nacional em março e acredito que estamos no caminho correto”, ressaltou.
Organização no local de trabalho – Durante o encerramento, representantes de confederações que compõem o macrossetor puderam apresentar um retrato das categorias e de como contribuir para o desenvolvimento sustentável, tanto no aspecto ambiental, quanto na garantia de geração de emprego com condições decentes de trabalho.Para Jasseir, Brasil pode gerar empregos se investir na transição para um modelo de desenvolvimento sustentável.
Presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Paulo Cayres, acredita que sem organização no local de trabalho é impossível construir a transição para outro modelo de desenvolvimento, porque são os dirigentes sindicais que fiscalizam a forma de produção.
Segundo o dirigente, é necessário também
investir em educação para mudar a consciência, tanto de dirigentes sindicais quanto de empresários e fazer com que os trabalhadores sejam capazes de atuar em um novo formato. “A qualificação da mão de obra é um dos gargalos do país e mudar isso depende da organização da nossa base, indo para cima e cobrando. Paralelo a isso, é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento e na verdadeira valorização da educação, porque temos um piso nacional do Magistério que foi aprovado e não é cumprido.”
O apoio à pesquisa, apontou, também é necessário para que o Brasil não seja apenas um exportador de matéria prima.
Outro ponto destacado por Cayres foi a importância de eleger políticos preocupados com essas questões. “Dos 594 parlamentares no Congresso, somente 91 são representantes dos trabalhadores. Se queremos desenvolvimento sustentável, temos que estar atentos para eleger representantes com essa preocupação no Congresso, porque é lá que se resolvem as questões.”
Valor agregado – Assessora da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ) da CUT, Marilane Teixeira, falou sobre como a indústria química afeta o meio ambiente, não só no processo produtivo, mas também na forma como os trabalhadores se relacionam com a natureza.
Para exemplificar, apontou o plantio de pinos e eucaliptos no setor de papel e celulose, que destroem toda a espécie à sua volta e consomem grande quantidade de água. “Em Santa Catarina, a Klabin estimula, na região onde está instalada, produtores locais a deixarem de produzir alimentos para plantar pinos, porque a rentabilidade é maior. Isso fez com que os preços dos alimentos ficassem mais caros, porque era preciso trazer de outras áreas. “
Ao mesmo tempo, falou, o mercado interno brasileiro não consegue consumir tudo o que o país produz e mais da metade da matéria prima é exportada, o que gera dependência de exportação. “Nós somos campeões de produção de celulose, mas não de papel, porque os mercados asiáticos é que fazem o produto, que gera maior valor agregado, num sistema parecido ao que ocorre no setor do minério”, explica.
Sustentabilidade é emprego decente – Vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Vestuário (CNTV) da CUT, João Batista, defendeu o modelo de desenvolvimento sustentável exige condições decentes de trabalho.Presidente da CNM, Paulo Cayres defendeu que desenvolvimento sustentável passa por condições decentes de trabalho. Ele apontou um retrato do setor, a começar pela elevação da exportação, que cresceu 222% nos últimos sete anos e hoje representam cerca de 25% do consumo têxtil de confecção.
Além disso, ele citou que 29% do ramo vestuário não tem carteira assinada é formado pelos “novos empreendedores”, fatia que definiu como “a praga da terceirização, do prestador de serviço em casa.” Outro problema é a rotatividade, já que metade dos trabalhadores permanecem menos de 2 anos no mesmo emprego.
Como resposta a essa situação, defende a CNTV, é preciso fortalecer o ramo por meio das federações e sindicatos fortes, instituir o piso salarial nacional e implementar uma política de valorização da indústria.
Da mesma forma que Marilane, da CNQ, ele destacou a necessidade de investir em tecnologia para acabar com a exportação de produtos em estado bruto. “Um dos grandes problemas é exportar o couro cru e comprar o produto pronto, sem agregar valor. Isso faz com que exportemos o próprio emprego.”
Para o secretário de Política Sindical da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, Nelson Morelli, a transição para um outro modelo de desenvolvimento depende também da opção do governo em relação às prioridades para o país.
“Cerca de 7,5% do PIB (Produto Interno Bruto) vem do agronegócio, enquanto 70% dos alimentos que vão à mesa do brasileiro são produzidos pela agricultura familiar. Acho que precisamos pensar o que queremos ser quando crescer, se vamos pensar em exportação para garantir divisas ou se vamos pensar a partir do ponto de vista da alimentação. Somos maiores exportadores de carne bovina e frango no mundo, mas olhem as condições que enfrentamos nesses setores”, criticou.
De acordo com Morelli, um grande passo para as categorias é investir na assinatura de acordos nacionais. “Repensar essa política passa pela organização dos trabalhadores. Temos alguns acordos nacionais, como Perdigão e Sadia, e é nesse caminho que queremos continuar
Tivemos uma inserção maciça da Friboi na mídia, mas ninguém passa lá para ver como a Friboi produz a carne.”
Fonte: CUT-NACIONAL