Senge-VR: após anos de luta, demitidos da FEM ganham processo na Justiça

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Há dezessete anos, nove trabalhadores, oito engenheiros e um economista da extinta empresa FEM – PROJETOS, CONSTRUÇÕES E MONTAGENS S/A, subsidiária da COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL – CSN, foram injustamente demitidos por justa causa. Os funcionários, exemplares e com longos anos de casa, Aurélio da Silva Veiga, Benedito Antônio Rodrigues Silva, Carlos Alberto Silva, Celestino Gonçalves de Carvalho, José Carlos Valerstain, Wilson José Gonçalves Ribeiro, Walter Kalawatis Filho, Paulo Tercio Soares Ávila e Sebastião de Souza Moreira, foram chamados para uma reunião no dia 10 de novembro de 1997, e em seguida receberam suas cartas de demissão e a notícia que transformaria suas vidas.  Indignados, e apesar de não terem uma justificativa formal da empresa, os nove trabalhadores foram surpreendentemente acusados de desídia, letra “e” do artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. O termo usado para justificar a demissão dos trabalhadores, significa desleixo, negligência, preguiça e desinteresse do empregado. Neste caso, dos empregados.

 

Acusação irresponsável
O triste fato ocorrido, e a absurda acusação teve início após a realização de uma auditoria na empresa a mando da CSN. De maneira suspeita e irresponsável, os auditores quiseram mostrar serviço à custa de prejudicar os trabalhadores. Então, concluíram condutas irregulares entre a FEM e a empresa HEXAGONAL ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO Ltda.

Trabalhadores usados como bode expiatório
O engenheiro mecânico Carlos Alberto Silva, na época era Chefe de Departamento de Manutenção Industrial, e trabalhou durante nove anos na empresa, comentou o que realmente teria acontecido “Desconheço o motivo da acusação de desídia. O departamento que eu comandava era rentável e gerava bons lucros para FEM. Acredito que foi uma atitude da CSN com intenção de desmoralizar toda a gerência da FEM, e assim deixar os outros colaboradores sem direção”, disse. De acordo com o engenheiro, as assinaturas encontradas pelos auditores da CSN nos boletins de medição eram referentes a serviços anteriores.  O único economista entre os trabalhadores demitidos, Aurélio Veiga trabalhou para FEM durante vinte e um anos. Lá, exercia a função de chefe de departamento, mas também trabalhou como gerente de controle por seis anos. Ele conta o impacto que o acontecimento causou na vida da sua família “Foi terrível, mas juntos conseguimos superar. Além da desmoralização pública para reconhecer o fundo de garantia, tive que me aposentar precocemente em condições desfavoráveis (proporcional)”, comentou. Ao ser questionado sobre o motivo da demissão do grupo por justa causa, ele respondeu “Como fechar uma empresa lucrativa e que gerava cerca de três mil empregos, sem reação da sociedade? Muito Simples, através da desmoralização de sua administração. Foi então que nós, bodes expiatórios, entramos em cena. A FEM foi desmembrada, vendida e depois extinta exatamente como planejado”, explicou.

Após trabalhar por dezessete anos na empresa, o engenheiro civil Walter Kalawatis, chegou a ganhar prêmios da mesma, primeiro ao completar dez anos de trabalho na FEM, em seguida, ao completar quinze anos na empresa. “Fiquei indignado. Nenhum patrão trata um empregado sem direito de resposta”, disse Kalawatis. “Fomos retirados da empresa no mesmo dia, vários guardas foram juntos para verificar se a gente não estava tirando documentos da empresa, foi muito constrangedor”, lembrou. Enfrentando o sério problema da demissão, e a longa briga na justiça, o engenheiro teve que lidar com outra adversidade, a Alopecia. Uma doença considerada autoimune caracterizada pela perda de cabelo ou de pelos, e diretamente relacionada à alta carga de estresse.

Com dezoito anos de trabalhos dedicados à empresa, o engenheiro civil, Sebastião Souza Moreira, era o chefe de divisão, responsável pela obra dos regeneradores do AF-3 da CSN. Ele ressalta o tamanho do impacto que sofreu na época. “Foi uma reviravolta na minha vida. Precisei ir trabalhar em Manaus, deixando minha família em Volta Redonda. Um demitido por justa da FEM/CSN, não consegue trabalho na região com facilidade”, lembrou. Sebastião lembra o que foi falado por um dos auditores em uma audiência na 1ª vara. ”Eu verifiquei desvios de pagamentos de prêmios a funcionários da FEM e CSN após a reforma do incêndio da unidade do LTF-3 da CSN, porém não vi nenhum motivo para dispensar estes engenheiros”. Também perguntado sobre o real motivo pelo qual ele e os outros foram demitidos por justa causa, ele comentou “Com o passar dos meses entendi que a CSN queria fechar a FEM, que na época estava passando por dificuldades financeiras e o mercado de estruturas metálicas estava parado, apenas a nossa área de obras na CSN que estava bem. Então um escândalo de desvios de conduta seria ideal para a opinião pública aceitar o fechamento da empresa”, concluiu.

Justiça para os samurais
O presidente do SENGE-VR, engenheiro João Thomaz, recorda que após dezessete anos de muita luta, em 2014 a justiça foi feita. Com a dedicação e trabalho do advogado Dr. Murilo Baptista, contratado exclusivamente pelo sindicato para defender os nove samurais que saíram vencedores da ação contra justa causa. Agora, a batalha na justiça será para ação de danos morais. “A todos vocês valorosos samurais que simbolizam o profissionalismo e a dedicação da importância da engenharia na construção da nossa sociedade democrática. Neste dia 11 de dezembro, em nome de toda a diretoria do SENGE, queremos parabenizar a todos os engenheiros e engenheiras pelo seu dia. E acreditar num futuro melhor com o exemplo de perseverança dos samurais”, finalizou o presidente.