Pela primeira vez duas mulheres lideram a disputa pela prefeitura de Paris, que ocorrerá em março: uma ex-ministra de direita e uma militante de esquerda que durante algum tempo ficou escondida.
Ministra da Ecologia durante a era Sarkozy, Nathalie Kosciusko-Morizet, de 40 anos, se descreve como ‘uma matadora’. Hoje no cargo de deputada pelo UMP, partido do ex-presidente, ela enfrenta brigas no seio da legenda e dissidências de membros da chapa.
Sem experiência ministerial, Anne Hidalgo, de 54, vice do atual prefeito da capital francesa – Bertrand Delanoë, que ficou 12 anos no cargo – tenta sair da sombra ao se desvincular da impopular política do governo de esquerda.
Durante um primeiro debate transmitido em cadeia de rádio e televisão na semana passada, as duas mulheres se confrontaram sobre as questões que mais preocupam os parisienses: segurança, moradia, transporte e política fiscal.
Até o momento, o duelo entre a candidata de direita conhecida pelas iniciais ‘NKM’ – formada na elitista Escola Politécnica – e Hidalgo, filha de um casal de espanhóis exilados, se mostrou mais por meio de pequenas frases ácidas sobre a reputação de cada uma do que por discussões sobre o futuro de uma metrópole com mais de 2,2 milhões de habitantes.
No último mês de janeiro, a imprensa francesa publicou supostas declarações da equipe de NKM em que chamava a disputa de ‘batalha entre a estrela e a zeladora’.
Anne Hidalgo, que obteve a nacionalidade francesa aos 14 anos e sempre menciona sua ‘trajetória de integração republicana’, chamou o episódio de perseguição de uma ‘casta’.
‘A cidade mais bonita do mundo’ Em julho, NKM, descendente de poloneses, afirmou sem rodeios ser ‘uma matadora’.
‘Só há espaço para matadores na política. Alguns sabem atirar, outros não’, declarou a política para o canal norte-americano NBC.
Kosciusko-Morizet não esconde suas ambições de se candidatar como candidata às eleições presidenciais de 2017. Mas, enquanto seus adversários a acusam de usar a prefeitura de Paris como um degrau, ela garante que sua ‘única obsessão é a batalha por Paris’.
A Prefeitura de Paris já permitiu a um ex-prefeito, Jacques Chirac, tornar-se presidente da República em 1995. Desde então, o cargo é visto como um poderoso trampolim político.
NKM virou alvo de chacotas recentemente após ter descrito o metrô parisiense como um ‘lugar charmoso’ onde é possível ter ‘ótimas experiências’. Após as declarações, alguns caricaturistas a desenharam sentada numa liteira (ndlr: cadeira com apoios laterais para ser carregada) usada pela aristocracia francesa no século XVIII, tentando ‘ser popular’.
Ex-conselheira durante a administração Lionel Jospin, entre 1997 e 2002, Anne Hidalgo aposta no corpo-a-corpo para convencer seus eleitores.
Pesquisa após pesquisa, a socialista é apontada como vencedora da próxima eleição. Na última sondagem realizada, Hidalgo apareceu com uma vantagem ainda maior, 54% das intenções de voto no segundo turno.
No que diz respeito às plataformas de campanha, as duas candidatas se entregam a uma batalha de cifras para que Paris continue fiel à imagem de ‘cidade mais bonita do mundo’.
Anne Hidalgo apresentou um programa de investimentos de 8,5 bilhões de euros. No topo de sua lista de prioridades estão um melhor acesso à moradia, transportes públicos mais confortáveis e a importância da natureza no conjunto da cidade.
NKM falou sobre sua vontade de reduzir o efetivo de funcionários públicos de Paris para chegar a uma economia de 225 milhões de euros até 2020. Ela também pretende ‘pedestrizar’ o centro da cidade e reforçar a política de segurança.
Quatro outros candidatos também estão no páreo para a prefeitura mais importante da França: um deputado ‘verde’, a secretária nacional do Partido de Esquerda, um advogado do Frente Nacional (extrema direita) e um dissidente da equipe de NKM, ameaçado de exclusão pelo partido.
Fonte: G1