Criada em 2012 para ser um mecanismo do governo para investigar os crimes cometidos por agentes do Estado entre 1964 a 1985, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi alvo de muitas críticas por não poder criar processos jurídicos. Apesar disso, Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, morto durante a ditadura militar, considera positivas as vitórias que as comissões nacional e regionais têm conseguido, entre elas, a alteração do atestado de óbito de seu pai, o desmonte da farsa na morte do ex-deputado Rubens Paiva e, mais recentemente, a comprovação da farsa do atentado no Riocentro.
“Interessante é que essas vitórias são um contraponto das críticas que ocorreram no começo dos trabalhos. Conforme isso vai sendo descoberto, a população coloca pressão para que haja punição. Já começa a se debater, por exemplo, o parecer do STF sobre a lei da anistia, que hoje é o grande empecilho para que se julguem os crimes daquela época”, afirmou.
Ivo, porém, acredita que o trabalho da comissão não gera muitos frutos se não houver uma pressão da sociedade civil em geral para que se esclareça todos os crimes cometidos pelos agentes do estado na ditadura militar.
“A comissão pode recomendar a revisão da lei da anistia, mas não pode colocá-la em cheque. Esse não é o seu papel. A pressão mais importante tem que vir de baixo, ou seja, da sociedade. Não devemos depender do governo para que as coisas se alterem. O Brasil tem um histórico de impunidade também com os crimes do Estado, desde a época da escravidão. Se quisermos entender o histórico violento da nossa polícia militar, essa quase guerra civil urbana, nós temos que olhar pra esses casos de impunidade e punir esses crimes. Porque não começar com esses grandes crimes cometidos?”, questionou.
Resistir é preciso
Ivo é diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog, que organizou a exposição “Resistir é preciso” sobre a época da ditadura militar no Brasil. Atualmente no Rio de Janeiro, a exposição já passou por São Paulo e Brasília, foi vista por mais de 168 mil pessoas e ficará no Centro Cultural Banco do Brasil carioca até o dia 7 de abril.
Ela é fruto de dois anos de trabalho e pesquisa que culminaram na elaboração de dois livros e uma série de DVDs sobre o período. Entre os destaques está a coleção do jornalista e ex – preso político Alípio Freire, que reúne obras de arte de artistas como Sérgio Freire, Flávio Império e Sérgio Ferro.
O diretor executivo ainda reforçou a importância desse trabalho, mesmo 50 anos após o golpe. “É talvez a pesquisa mais extensa e completa que já existiu para entender o que foi a ditadura militar no Brasil. Temos uma linha do tempo que compara os acontecimentos políticos aqui com o que acontecia no resto do mundo para dar um contexto geral das coisas”, explicou.
Fonte: Brasil de Fato