O Coletivo de Mulheres da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros) foi destaque durante a 6ª Conferência Regional UNI Américas Mulheres, realizada em modo virtual, no dia 2 de dezembro. Participaram do evento a vice-presidente da Fisenge, Elaine Santana; a diretora da mulher, Virgínia Brandão; e a ex-diretora da mulher, Simone Baía, que encerrou seu mandato de quatro anos como titular do Comitê de Mulheres da área V UNI Américas. Quem assume é Virginia Brandão. “A Fisenge tem um histórico de articulação internacional entre os sindicatos, com o objetivo de fortalecer as negociações coletivas globais e na UNI nos organizamos pelo Coletivo de Mulheres no debate de gênero. Certamente, teremos muitos desafios pela frente, principalmente com os efeitos de uma pandemia mundial”, disse Virginia.
Durante o evento, foi projetado um vídeo com entidades que se destacam com ações de gênero, entre elas a Fisenge. [assista aqui] De acordo com Elaine Santana, nesse tipo de evento, com mulheres de toda a América, “percebemos que nossas lutas são idênticas, independentemente do país ou cultura, há a diferença salarial, acúmulos de jornadas e de desigualdade social de gênero que se intensificaram com a pandemia”. Elaine é a primeira mulher vice-presidente da Fisenge. “Houve um debate intenso sobre a representatividade feminina nos espaços de poder, principalmente nos sindicatos filiados. Foram destacadas várias inciativas de gênero, inclusive a do Coletivo de Mulheres da Fisenge, que se empenham em aumentar a quantidade de mulheres nos sindicatos e também engajar ainda mais mulheres nas lutas por igualdade de direitos, contra violência e pela ocupação dos cargos de lideranças”, pontuou.
Alejandra Estoup, presidente da UNI Américas Mulheres, apresentou o relatório sobre a reunião mundial da UNI Mulheres em que se evidenciou a situação de pandemia que abriu uma porta na divisão do trabalho e nas variáveis fundamentais que agravaram a situação de crise: a violência doméstica, as desigualdades social e econômica, o cuidado infantil e de idosos que recai sobre as mulheres, os serviços de saúde sobrecarregados, o cuidado da saúde reprodutiva das mulheres afetados consideravelmente. “Todas essas variáveis refletem a matriz da desigualdade de gênero na região que acumulam, potencializam e interagem entre si para discriminar as mulheres que se encontram em uma situação vulnerável por terem condições precárias de trabalho e estarem expostas ao desemprego. Como sindicalistas que somos, as grandes crises nos impõem grandes desafios e vamos estar à altura da circunstância com a dupla ou tripla jornada que a pandemia aprofundou”, afirmou Alejandra.
Diante de tantos desafios colocados para as mulheres trabalhadoras, principalmente em uma pandemia global que evidencia a desigualdade de gênero com acúmulo de jornadas, a violência doméstica, entre outras questões. Com o objetivo de explicar as ações de gênero da UNI, a engenheira química, Simone Baía, que encerra seu mandato como titular no Comitê Mulheres da UNI, fala sobre a participação das mulheres nos sindicatos e a necessidade da inclusão do direito à desconexão nas negociações coletivas.
Que ações você destacaria durante esse período?
Dentro das propostas da Uni Américas Mulheres, eu destacaria o foco em campanhas de fortalecimento da rede de mulheres, estimulando o cumprimento da recomendação de 40% de mulheres nos vários setores nos quais a Uni tem filiadas nas Américas. Especificamente no Brasil, foram realizadas atividades que debateram desde o mercado de trabalho e a empregabilidade até os retrocessos nos direitos e o impacto sobre a vida das mulheres.
De que forma a Fisenge contribui para a política sindical internacional?
A Fisenge com suas políticas de gênero da Fisenge articuladas, propostas e efetivadas pela diretora da mulher vem ao longo de anos, e mais fortemente nos últimos 10 anos, desenvolvendo ações que vão desde a comunicação sindical até a formulação de campanhas em defesa dos interesses específicos das mulheres nos processos de negociação coletiva. Esse quadro demonstra que é possível as mulheres vencerem as impossibilidades socialmente construídas, por meio de políticas sindicais específicas, mesmo em uma categoria predominantemente composta por homens.
Inclusive, nos documentos oficiais da 6ª Conferência da UNI Mulheres , que ocorreu no dia 2/12, a Fisenge aparece como uma das entidades que se destacam nas políticas de igualdade nas organizações sindicais nas Américas. Este é um registro importantíssimo e nos mostra que estamos no caminho certo.
O direito à desconexão tem sido uma pauta comum em negociações coletivas internacionais. Qual a importância desta luta?
Dentro do setor de P&M (profissionais e gerentes) da Uni, os acordos e as convenções que dispõem sobre o direito de desconexão são parte de uma ampla campanha em nível global, que visa amplificar os acordos por todos os países onde a UNI se faz presente com seus sindicatos filiados. O direito à desconexão significa a garantia de descanso para o trabalhador e a trabalhadora, ou seja, não ser obrigado(a) a responder mensagens virtuais, mensagem de texto, e-mails, telefonemas, videochamadas e/ou realizar tarefas fora de seu horário pré-estabelecido. Muitos sindicatos já têm incorporado o direito à desconexão nas negociações e precisamos ampliar esse debate na sociedade.
Quais os desafios para o movimento sindical e de mulheres para o próximo período?
A pandemia expõe novos desafios nas negociações coletivas ligadas ao home office (ou teletrabalho) como, por exemplo, o ambiente de trabalho ergonomicamente correto e com bem estar, a luta pelo direito à desconexão, além dos desafios em curso como a necessidade de novas formas de organização e comunicação sindical e a própria discussão sobre a divisão sexual e racial do trabalho.
Texto: Camila Marins/Fisenge