Quando pensamos na engenharia, é comum associarmos principalmente à construção civil. No entanto, a engenharia está presente em tudo que está ao nosso redor desde a água potável até a produção de alimentos seguros. De acordo com o estudo EX Ante Consultoria Econômica e pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a BRK Ambiental e com o apoio da Rede Brasil do Pacto Global, uma em cada quatro mulheres não tem acesso a saneamento básico no país. Os dados ainda revelam que 2,5 milhões de brasileiras não têm banheiro em casa. No Rio de Janeiro, temos um exemplo concreto que foi a privatização da CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro), o que coloca a população em situação de vulnerabilidade social. Isso porque água nunca deveria ser considerada mercadoria, e sim um bem essencial à vida. E, durante a pandemia de Covid-19, vimos o quanto a água é fundamental para a saúde da população.
Além de dificultar o acesso e a universalização da água, a privatização amplia a falta de condições adequadas do tratamento de resíduos sólidos, da coleta pública do “lixo” em áreas de moradia da classe mais pobre da população, prejudicando a saúde da trabalhadora e de sua família. Se faz necessária a fiscalização das promessas de expansão da rede de esgoto nas áreas mais distantes do centro da cidade. A situação das empresas públicas de saneamento foi agravada pela Lei nº 14.026/2020, que permite a privatização do setor.
Nos últimos anos do governo Bolsonaro, tivemos uma escalada de privatizações que atingiu não só o saneamento como a energia, uma vez que a Eletrobras também entrou nesse processo de venda, que pode inviabilizar o acesso ao fornecimento de energia segura em nossas casas, com o aumento da tarifa e apagões. O setor elétrico é estratégico para o desenvolvimento econômico e social do país e para promoção do bem-estar da população brasileira. Sabemos como a falta de iluminação atinge principalmente as mulheres. Ruas sem iluminação facilitam casos de assédio sexual e estupro.
Com a eleição do governo Lula e de tantas mulheres ao parlamento, faz-se urgente a revisão de todas as privatizações e a reestatização das empresas públicas, além da implantação de escritórios públicos de engenharia, com o objetivo de fornecer assistência técnica gratuita à população. Com o investimento do Estado numa engenharia popular, é possível construir uma sociedade justa e igualitária.
Neste 8 de março, precisamos refletir sobre a defesa da soberania do nosso país, a retomada de nossas empresas públicas e por uma engenharia popular e pública para todas as mulheres. É pela vida de todas as mulheres!
Por Virginia Brandão, engenheira eletricista e diretora da mulher da Fisenge.