25 anos da Fisenge: eleições, desenvolvimento e engenharia

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email

Da esquerda para a direita: Paulo Nogueira, Celso Amorim, Clovis Nascimento, Simone Baía e Clemente Ganz Lúcio. Foto: Adriana Medeiros.

A Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) comemorou 25 anos de fundação no dia 21 de setembro, no Clube de Engenharia. O Jubileu de Prata aconteceu com a realização do Simpósio “SOS Brasil Soberano: A Engenharia, as Eleições e o Desenvolvimento do Brasil”, promovido com apoio da revista Carta Capital e com público formado por representantes de diferentes entidades ligadas à engenharia nacional, a organizações da sociedade civil, parlamentares, pesquisadores e profissionais.

“Comemoramos 25 anos de uma trajetória de luta para muito além das questões corporativas, mas sobretudo de contribuição para o desenvolvimento do Brasil”, afirmou Clovis Nascimento, presidente da Federação, engenheiro civil e sanitarista, na abertura do evento. Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, parabenizou a escolha do tema do simpósio: “O tema de hoje transcende a defesa da engenharia nacional, porque o que está em discussão é o nosso futuro como Nação. E a Fisenge tem história e trajetória defendendo essa causa, a causa da Nação soberana, democrática e socialmente justa”, disse ele. Também participaram da mesa de abertura representantes de entidades da engenharia nacional: Joel Krüger, presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea); Paulo Guimarães, presidente da Mútua; Carlos Monte, representando a Federação Nacional de Engenheiros (FNE); Luiz Cosenza, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ); Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e Anielle Nascimento, diretora da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Mesa de abertura, da esquerda para a direita: Anielle Nascimento, Luiz Cosenza, Joel Krüger, Pedro Celestino, Clovis Nascimento, Paulo Guimarães, Carlos Monte e Olímpio dos Santos. Foto: Adriana Medeiros.

O simpósio foi realizado com a exposição das ideias de três respeitados especialistas em questões de desenvolvimento nacional: Celso Amorim, embaixador e ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil (1993-1994 e 2003-2010); Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e Diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE); e Paulo Nogueira Batista Jr., economista e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, na China. Em comum aos três, a defesa incontestável da soberania nacional e do desenvolvimento com inclusão social como estratégias para que o Brasil supere a crise generalizada pela qual passa e possa encontrar soluções para a retomada da geração de empregos, a reconstrução da engenharia e a estabilidade democrática. A moderação coube a Simone Baía, engenheira química e Diretora da Mulher da Fisenge.

Soberania científica e tecnológica

Celso Amorim lembrou que o fortalecimento da engenharia brasileira foi uma importante preocupação existente quando da fundação do Ministério da Ciência e Tecnologia, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologias nacionais. A pauta, no entanto, é ainda hoje um desafio. “O país que é dependente tecnologicamente e cientificamente tem sua soberania limitada”, lembrou ele. “O incêndio do Museu Nacional é uma metáfora para o que está acontecendo no Brasil:  o incêndio da inteligência brasileira, da criação artística, da nossa memória”. Para o embaixador, as eleições de 2018 têm papel fundamental para que a questão seja endereçada no debate público. “É uma luta que vai sim encontrar seu momento nas eleições. Teremos sim de defender um nacional-desenvolvimentismo contra o neoliberalismo”, apontou o ex-ministro. Amorim ainda tratou da importância da atuação do Estado na proteção da indústria nacional. “É preciso 20, 30 anos de governos, que nem precisam ser do mesmo partido, para que se construa independência tecnológica”, afirmou ele, completando que “Não existe soberania sem democracia, porque a democracia é a soberania popular”.

Celso Amorim: “O país que é dependente tecnologicamente e cientificamente tem sua soberania limitada”. Foto: Adriana Medeiros

Retomada da engenharia

“As dificuldades da engenharia nacional, que vocês conhecem muito bem, são muito ligadas a um longo período de baixo crescimento econômico do Brasil desde a década de 1980. Desde então nós não conseguimos encontrar um rumo de crescimento sustentável”, explicou o economista Paulo Nogueira Batista Jr. “Temos surtos de crescimento econômico, mas basicamente temos um processo de estagnação ou quase estagnação, e um retrocesso forte na área industrial, afetando de sobremaneira a engenharia nacional”, explica ele. Os momentos de apoio do Estado ao desenvolvimento da indústria nacional privada nas últimas décadas, inclusive por atuação do BNDES, portanto, foram determinantes para que houvesse crescimento na área, embora não tenha sido suficiente para que se criasse um polo de apoio político do empresariado às grandes políticas desenvolvimentistas nacionais.

Paulo Nogueira Batista Jr., economista e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, dos BRICS. Foto: Adriana Medeiros

Construir alternativas

Do ponto de vista do trabalho, segundo o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, o desenvolvimento nacional atravessa um período de grandes dificuldades. Para ele, é preciso construir uma ampla frente social para se pautar trabalho, desenvolvimento e soberania no pós-eleições. “Vamos enfrentar o terceiro turno, que já está sendo construído. E precisamos ter clareza de que essa construção exigirá de nós uma resposta sensata e compromissada. Compromissada com o desenvolvimento. E sensata no sentido de reunir as forças necessárias para fazer a construção de nossa estratégia democrática, que não é algo pequeno, porque será preciso ressignificar na sociedade o papel das instituições, porque sem elas não garantimos nossa democracia e a soberania”, disse ele. E a engenharia atua de forma significativa nessa dinâmica. “Quando nós pensamos em engenharia, me vem sempre a ideia de que a capacidade cognitiva de uma sociedade que tem um pensamento de engenharia desenvolvido é o de uma sociedade que reuniu capacidade para resolver problemas complexos”, afirmou Clemente Ganz Lúcio.

Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e Diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Foto: Adriana Medeiros.

Homenagem

As entidades presentes homenagearam José Chacon de Assis, falecido em 3 de julho deste ano. Militante reconhecido no movimento sindical, ambiental e pela soberania nacional, Chacon atuou na luta pela Anistia e pelas Diretas Já durante a Ditadura Militar (1964-1985), além de participar da campanha pela Constituição de 1988 e atuou, ainda, como diretor eleito do Senge-Rio e do Crea-RJ, lutando contra as privatizações e trabalhando nos debates do Plano Diretor do Rio de Janeiro.

 

Fonte: Clube de Engenharia