“Os engenheiros não podem estar ausentes das grandes questões nacionais. As elites brasileiras têm se servido com voracidade do poder, utilizando-o para seus interesses. Transvestem-se das mais variadas formas. A última foi a capa da modernidade e a promessa de levar o país ao Primeiro Mundo. Sabemos aonde esse ‘pesadelo neoliberal’ nos tem levado”, trecho do discurso de Maria Cristina Sá, primeira mulher a assumir a presidência do Sindicato de Engenheiros no Estado de Minas Gerais (Senge-MG), entre os anos de 1990 a 1995 por dois mandatos, período que contribuiu fortemente para a construção da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros.
Você assumiu a presidência do Senge-MG num momento pós redemocratização do Brasil. Que fatos políticos marcaram este período?
Participamos da Constituinte de 1988, acompanhamos o fim do governo Sarney, o início do governo Collor e seu impeachment. Era uma época de efervescência política. No entanto, havia uma forte tentativa de implantação de um novo modelo no país, com a abertura total e a destruição do patrimônio público com o sucateamento e as privatizações. A recessão atingiu duramente os engenheiros e cerca de 30% dos profissionais estavam desempregados ou fora do exercício profissional, além do desrespeito aos salários e o desmantelamento de equipes técnicas.
Como se deu a construção da Fisenge?
Havia uma disputa interna muito grande sobre a filiação à Central Única dos Trabalhadores (CUT), quando ainda estávamos na Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). O Senge-MG tinha acabado de se filiar à CUT e nos colocamos ao lado do grupo que fundou a Fisenge. Em abril de 1991, aconteceu o I Congresso Nacional de Sindicatos de Engenheiros, que culminou na criação da Coordenação Nacional de Sindicatos de Engenheiros (Consenge), que, em 1993, consolidou a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge). Desde então, dirigimos, pela Fisenge, campanhas salariais importantes em todo o Brasil, além de lutarmos contra as privatizações das principais estatais. Um caso foi a entrega da Vale do Rio Doce. Os anos 1990 foram trágicos e a maior parte do patrimônio público foi dizimado.
Hoje, há um enorme processo de despolitização na sociedade. De que forma o movimento sindical pode contribuir para esta reversão?
Estamos passando por um momento muito difícil, porque setores mais à esquerda estão muito perdidos. Houve avanço com o governo Lula, mas há uma certa acomodação. Não temos mais a política que tanto mobilizou na Constituinte de 1988, até porque, hoje, a sociedade está muito centrada numa perspectiva individualista. Precisamos seguir na luta pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna.